terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Mártires

Eu tenho uma relação toda especial com a morte.

Acredito que tenhamos que ter uma vida muito digna para merecermos ter uma passagem que possua significado.

Nada me marcou mais do que a morte do Ayrton Senna.

O mundo chorou.

Eu morava em São Paulo e testemunhei o dia mais calmo da história daquela cidade. Até os marginais estavam paralisados durante o funeral.

O que uma pessoa pode ambicionar mais?

O que alguém pode querer mais do que a sua morte significar algo para alguém?

Infelizmente, a humanidade precisa dos mártires.

Sempre foi assim...

Desde Jesus Cristo...

Ainda estamos vivendo a tragédia da boite Kiss, em Santa Maria.

Mas todos têm a convicção de que o sistema de incêndio de todos os prédios do Brasil estão sendo revistos. Todos os alvarás do Brasil estão sendo atualizados...

Assim como os carros da Fórmula 1 foram completamente reformulados para que mais nenhum piloto morresse no exercício da sua profissão.

Mestre Ary Vidal se foi e está absolutamente fantástico e emocionante a quantidade de homenagens prestadas em todos os meios de comunicação que estou tendo acesso.

As histórias do Ary dão para ficarmos dias aqui nos divertindo e aprendendo.

Mas não posso deixar de lamentar que precisou ele morrer para que tudo isso acontecesse.

Mas não parem...

Eu mesmo vou compartilhar, com enorme prazer, toda aquela sabedoria...

Jamais vou esquecer o dia em que chegamos em Santa Cruz do Sul para uns jogos amistosos

Eu era assistente do Edvar Simões, técnico do Monte Líbano (SP).

O Ary Vidal nos convidou para um churrasco na casa dele.

Ele havia sido campeão brasileiro pela equipe gaúcha e era ídolo máximo na cidade.

Tinha até mascote, imitando o Ary, andando pela cidade.

Quando lá chegamos, o Edvar Simões, que é um dos maiores gênios da história do basquete brasileiro,
impressionado com tudo, virou para o Ary e exclamou:

"Ary, você está garantindo o leitinho das crianças"

O Ary, que chamava o Edvar de Jacú, apelido da época de atleta de Seleção Brasileira, nem pestanejou:

"Jacú, o leitinho das crianças eu já garanti há muito tempo, agora estou garantindo o whiskie dos adultos"

Será que vamos ter que esperar o Edvar Simões morrer para reverenciá-lo como expressão máxima do basquete brasileiro?

E a Maria Helena? e o Vendramini? e o Mical? e o Wlamir? e o Marcel? e tantos outros?

Será que estou querendo demais em pleitear um Conselho de Notáveis, com grandes cabeças, cuidando do nosso basquete?

Será que estou querendo demais em pleitear um Conselho de Memória, com pessoas comprometidas com a memória do basquete brasileiro?

Edvar Simões






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