terça-feira, 21 de abril de 2015

Página 2 do Manual dos Técnicos: O preço de cada vitória... Como falar com árbitros... e Treinos sequenciais

Vamos aproveitar que ontem não teve jogo... para alguma importantes reflexões.

Vocês sabem o que é necessário para um jovem técnico se tornar um 'Head Coach'?

No basquete... que considero um dos segmentos mais complexos da nossa sociedade... os problemas podem ser dividido em quantidade... e em qualidade.

O técnico principal de uma estrutura tem que comandar...

e comandar significa administrar... resolver.

Um projeto bem desenvolvido possui atletas consagrados... jovens e veteranos...

atletas na melhor idade... que no nosso caso, fica em torno dos 28 anos...

atletas jovens promissores... e atletas jovens não tão promissores assim.

além dos atletas da base.

Aonde um jovem técnico pode estudar sobre os fundamentos do basquete?

Não existe bibliografia que ensine isso.

Eu, por exemplo, aprendi demais participando de treinamentos no Flamengo...

observando super craques como Marquinhos Abdala... e o argentino Filloy...

que possuíam gestos ofensivos diferenciados... que mais ninguém executava.

Trabalhei com o Carioquinha no Flamengo... e no Pinheiros (SP).

O Cari foi um dos grandes gênios... com quem tive a oportunidade de aprender.

No Pinheiros... eu era seu técnico...

mas era ele quem me ensinava.

Nós tínhamos um grupo muito jovem... e uma excelente equipe juvenil.

Eu reservava grande parte do treino para o Carioca administrar...

eu sentava numa cadeira... e anotava tudo.

Tínhamos também o argentino Aguirre... que não era tão alto assim...

mas que ninguém conseguia marcar...

e olha que ele não saltava.

Seu trabalho com os cotovelos era perfeito.

Ele me ensinou que um jogador praticamente inútil...

pode se transformar numa peça essencial...

somente ao incorporar mais um elemento nos seus fundamentos.

E o Luis Felipe?... com quem trabalhei em Jales... com sua bandeja invertida?

ele foi o rei da bandeja... e um dos maiores cestinhas da história do basquete brasileiro.

Vocês têm dimensão do quanto aprendi ao passar uma temporada inteira como assistente do Edvar Simões?

Vocês sabem o que é um treino do Edvar?

Vocês conseguem visualizar o quanto ele interfere na performance individual de cada jogador?

Inclusive no aquecimento para os jogos.

Fui assistente do Emannuel Bonfim...

eu era muito jovem... e isso ajudou demais a formar meu caráter esportivo.

Trabalhei com o Alberto Bial... nós dividíamos a base do Flamengo.

Até hoje... me sinto uma mistura de Bial... com Emannuel... com Edvar... quando estou dirigindo.

"Guilherme... aprende uma coisa comigo...

toda vitória tem um preço...

e você tem que saber até que preço está disposto a pagar... em cada jogo..."

"Guilherme... não se fica falando com a arbitragem durante um jogo...

você tem que economizar o efeito da sua voz...

não pode reclamar em lances aonde metade do ginásio está dando razão para o árbitro...

tem que esperar o árbitro errar de verdade...

aí sim... ele te ouvirá... e tentará provar que não tem nada contra o seu time.

Só se deve falar com o árbitro... duas ou três vezes... no jogo inteiro..."

Tudo isso ensinado pelo meu maior mestre: Edvar Simões.

Como aprendi quando fui superintendente da Federação do Rio.

Eu tinha uma relação próxima com Hélio Rubens... Maria Helena... Heleninha... Vendramini... Miguel Ângelo... e tantos outros.

e os ensinamentos do Mestre Kanela?

que foi quem me contratou para o Flamengo... dizendo que eu seria seu sucessor.

Um dia... quando eu ainda dirigia mirim e infantil...

estava assistindo a um super treino do adulto... anotando tudo no meu caderninho...

quando o Kanela chegou.

O Kanela era vice-presidente de esportes olímpicos.

Ele ficou vermelho... ao meu lado.

Eu, ousadamente, comentei:

"Seu Togo... esse treino está bom demais..."

Ele não se conteve... e explodiu:

"Esse treino está uma M...!"

Fechei, discretamente, minhas anotações...

e, bem baixinho, gaguejei:

"mas Seu Togo... o treino está uma beleza...

todos os atletas estão extenuados..."

Ele não pestanejou:

"Esse treino está uma M...

porque não tem nada a ver... com o treino de ontem..."

Vou parar por aqui...

talvez escreva a parte 2... dessa crônica...

afinal de contas...

nem falei da minha experiência com o Lula... com o Ênio...

com Mortari (de quem fui assistente na extinta Pirelli)...

e com tantos outros que auxiliaram na minha formação.

Só quero esclarecer que... minha intenção ao escrever tudo isso...

não é expor meu currículo.

Meu verdadeiro objetivo...

é o de demonstrar que não se forma um 'Head Coach' em pouco tempo...

muito menos através das indefectíveis pranchetas.

Quero mostrar que são inúmeras relações humanas...

e que um jovem pode ir muito bem... diante de determinadas situações.

mas quando cresce a qualidade dos problemas...

ele pode não passar da página 2.




Um comentário:

  1. Se puder... Escreva a parte 2 desta crônica... Vale demais a leitura!... Obrigado!

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